Governo federal aceita transferência de chefes do Comando Vermelho para presídios federais
29/10/2025
(Foto: Reprodução) Governo federal aceita transferência de chefes do Comando Vermelho para presídios federais
O governo federal aceitou o pedido do Rio de Janeiro para a transferência de chefes do Comando Vermelho para presídios federais. Mas a mudança ainda depende de aval da Justiça do Rio.
Os dez traficantes cumprem pena no Complexo de Gericinó, em Bangu, no Rio. A transferência tenta impedir que os presos mantenham contato com traficantes que ainda comandam a facção nas ruas. Entre eles, Luciano Martiniano da Silva, o Pezão, e Edgar Alves de Andrade, o Doca, também conhecido como Urso. Segundo a polícia, os dois continuam escondidos no Complexo do Alemão e da Penha.
Imagens foram gravadas na terça-feira (28) pela polícia no momento em que a operação começava, por volta das 6h. Vinte e três bandidos fortemente armados reunidos no alto do Complexo da Penha, e se preparando para fugir pela mata. Alguns usam roupas camufladas e uniformes parecidos com os das polícias, o que dificulta a identificação.
Em outro trecho da gravação, já são dezenas de traficantes perto da mata. Segundo a polícia, entre os bandidos estão chefes do tráfico de outros estados como Goiás, Espírito Santo, Bahia, Ceará, Amazonas e Pará; além de integrantes da cúpula da facção no Rio. As investigações indicam que, nesse momento, o traficante Doca já estava escondido fora do perímetro de casas do Complexo da Penha. Foi na área do morro conhecida como Serra da Misericórdia que aconteceu o confronto mais intenso.
Em entrevista ao Estúdio i, da GloboNews, o secretário de Segurança Victor Santos explicou por que a polícia não conseguiu prender o bandido:
"O Doca, nós não conseguimos pegar nesse primeiro momento porque é uma estratégia que eles fazem. Essa liderança, principalmente a liderança do Doca, o que eles fazem? Ele bota os soldados como mais uma barreira para poder facilitar a sua prisão. Então, a gente tem toda essa dificuldade. Por que a gente, no início, falou da necessidade dos blindados? O blindado, com uma configuração militar, você consegue chegar com mais rapidez até o provável local onde o nosso alvo está. Como nós não temos, a distância para superar essas barreiras físicas - não só a barreira física, mas o fogo cerrado, a agressão dos criminosos -, isso faz com que a gente leve um tempo maior".
Governo federal aceita transferência de chefes do Comando Vermelho para presídios federais
Jornal Nacional/ Reprodução
De acordo com as investigações, a mata usada na fuga também serve de área de treinamento para novos integrantes da facção - inclusive menores de idade.
Imagens que constam no relatório da investigação mostram como os traficantes cometem atos de extrema violência. Um homem foi arrastado por uma moto, acusado de roubar dinheiro do tráfico. A polícia suspeita que ele tenha sido morto.
Com esses métodos, o Comando Vermelho controla mais de mil favelas no Rio de Janeiro. Segundo as polícias Civil e Militar, seis em cada dez comunidades estão sob o controle da facção. As demais são dominadas por milícias e outros grupos criminosos.
Nos últimos anos, o Comando Vermelho mudou as formas de exploração dos territórios que domina. A venda de drogas continua sendo um negócio, mas a facção passou a cobrar uma espécie de pedágio para que moradores tenham acesso a serviços básicos, como gás, internet e transporte.
O Comando Vermelho passou a disputar novas rotas do tráfico de drogas no Norte e no Nordeste do país. Informações da Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senapen) mostram que a facção já está em 24 estados e no Distrito Federal.
“O que tem acontecido é a usurpação de funções do Estado, até mesmo em empreendimentos imobiliários. O que existe, na verdade, são a cobrança de impostos, a cobrança de tributos, porque, uma vez que dentro desses espaços o Estado já não exerce mais o seu poder soberano, o seu monopólio da força, esses atores passam a exercer funções que, em tese, eram prerrogativas do Estado”, afirma o analista de segurança Alessandro Visacro.
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